Capitalismo e Tecnologia

Tiago Lourenço
2 min readDec 27, 2021

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“Da mesma maneira que a eliminação da propriedade de classe representa para a burguesia a eliminação da própria produção, assim também a eliminação do caráter de classe da educação moderna parece a ela o equivalente à eliminação de toda a educação.” (Manifesto Comunista)

Esse elemento de ideologia faz muitas pessoas pensarem que a derrubada do capital vai implicar em um retorno a um modo de vida sem tecnologia — num sentindo mais estrito do termo, se referindo a dispositivos eletrônicos, avançados, mecânicos, etc -, como se fosse o capitalismo, ou o capitalista, o único responsável por produzir esses aparatos. Camarada, quem produz tecnologia é o trabalhador, não o burguês dono da fábrica. Elon Musk não desenvolveu sozinho os produtos modernos das suas empresas, foram seus empregados — que, aliás, como de costume na relação entre trabalhadores e patrões, também sofrem nas mãos do bilionário. Nem mesmo a sua fortuna foi construída a partir do zero, sabemos que foi herdada de seus pais, donos de minas de esmeraldas na África do Sul, no contexto do Apartheid, numa das formas de trabalho mais cruéis: a mineração. O capitalista controla a produção, e por consequência o desenvolvimento tecnológico e a ciência — não, a ciência não é neutra, a luta de classes também atravessa essa dimensão.

O que nós, comunistas, queremos não é a supressão do avanço tecnológico, mas sim que o trabalhador assuma o controle da produção, que receba aquilo que realmente precisa pra viver plenamente, e não apenas sobreviver. Quer dizer, que sua força de trabalho se converta em produção e reprodução da sua vida e emancipação da sociedade, não em lucro do patrão através da extração do mais valor — a parcela da riqueza produzida pelo operário que é expropriada. Além disso, a ciência e a tecnologia nas mãos do povo vão ter a função de melhorar as condições materiais da sociedade e não de acumulo de riqueza, de reprodução de capital, de forma que o que alcançaremos será muito maior e muito melhor do que o que fazemos agora já que os objetivos serão outros. Como disse o camarada Lenin, “a mente de dezenas de milhões criará em conjunto algo muito mais elevado do que a mente de um só gênio”. Não mais obsolescência programada e atualizações sistemáticas que nos obrigam a trocar de aparelhos continuamente, não mais destruição da natureza, não mais propagação de ideologia burguesa através dos meios de comunicação e redes sociais.

O que temos como horizonte é a superação da essência capitalista na ciência e na tecnologia, é a produção coletiva, livre, acessível a todo ser humano, que respeite os limites da natureza e que promova cada vez mais a melhoria da vida.

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